O Oriente
Médio é uma das regiões mais conflituosas do mundo, tanto por sua localização
geográfica, numa área disputada por diversos povos, quanto por sua história,
marcada por guerras e atritos que já se estendem há séculos. Nos primeiros 40
anos de VEJA, a região foi tema de dezenas de reportagens de capa da revista.
Em algumas ocasiões, o assunto era o terrorismo. Em outras, as árduas
negociações de paz. Em comum a todas elas, uma constatação: tudo o que acontece
naquele instável pedaço do globo tem fortes repercussões internacionais.
Em 1969, VEJA publicou suas duas primeiras capas sobre a questão
palestina - uma sobre a posição de Israel, vencedor da guerra de 1967, e outra
sobre o terrorismo palestino. O destaque nessa última era a Fatah, uma das
principais organizações árabes, liderada por Yasser Arafat, que reunia
militantes dispostos a tudo para libertar a Palestina. No início da década de
1970, 7.000 palestinos se mobilizaram numa guerra contra Israel, dando início a
uma infindável seqüência de ataques e revides violentos. O ciclo de violência
se repetiria quase sem interrupção pelas quatro décadas seguintes.
Em 1973, o Oriente Médio foi mergulhado num conflito ainda mais amplo,
com Síria, Jordânia e Egito (com apoio dos soviéticos) combatendo Israel
(apoiado pelos americanos). Na balança, além dos interesses econômicos e
desacordos políticos, havia ainda o petróleo, sem dúvida a maior arma dos
árabes. O então secretário de Estado americano, Henry Kissinger, assumiu o
comando das negociações para impedir que o conflito tomasse proporções ainda
maiores e conseguiu um acordo de paz em Moscou. Mas Israel não respeitou o
cessar-fogo e avançou suas posições militares, atravessando o canal de Suez e
encurralando o Exército egípcio. O presidente do Egito, por sua vez, exigia
intervenção militar soviética e americana para fiscalizar a trégua e Richard
Nixon, presidente americano, colocava suas forças nucleares em alerta. A ONU
enviava suas forças internacionais para garantir o cessar-fogo. A região estava
a um passo do abismo, mas Nixon dizia que as chances de paz nunca tinham sido
tão grandes como naquele momento.
A região enfrentaria outros graves abalos, como a guerra civil no
Líbano, a revolução islâmica de 1979 no Irã e o ataque israelense contra uma
instalação nuclear iraquiana. O Iraque de Saddam Hussein atacou o Irã dos
aiatolás, enquanto o terrorismo matava Anuar Sadat, líder egípcio que aceitou
dialogar com Israel. Mais de dez anos depois, o assunto aparecia na capa de
VEJA de forma mais positiva, com o histórico aperto de mãos de Arafat e Rabin
na Casa Branca. O otimismo durou pouco tempo: Rabin seria morto apenas dois
anos depois, por um fanático israelense contrário ao diálogo com os palestinos.
Desde então, os conflitos continuaram a atormentar o Oriente Médio.
Desde os anos 1990, foram duas guerras no Iraque e uma terrível prorrogação da
troca de agressões entre árabes e judeus. Arafat morreu em 2004, sem ver a
criação de um estado palestino na região. Um ano depois, contudo, havia alguns
sinais positivos no Oriente Médio, com indícios de democratização de países
como Líbano (agora livre das tropas sírias presentes no país havia anos) e
Egito (que anunciou eleições relativamente mais livres). Resta saber até onde
chegaria esse sopro de liberdade e até quando os atritos entre Ocidente e o
Islã alimentariam o derramamento de sangue dentro e fora do Oriente Médio.
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